Os perigos de utilizar o Facebook como ferramenta de comunicação escolar

Comunicação escolar
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O Brasil é um dos países que mais acessam as redes sociais. Os números relacionados ao Facebook impressionam: 8 em cada 10 brasileiros possuem perfil nesta rede social, segundo dados divulgados em 2016.

Com tamanha popularização, o Facebook passou a ser usado por algumas instituições de ensino como alternativa de canal de comunicação com as famílias.

Mas será que as formas de interação permitidas por esta rede são pertinentes às necessidades da comunicação no âmbito escolar?

Embora a plataforma tenha sido criada para relacionamentos pessoais, muitas empresas já descobriram o potencial do Facebook em construir e manter relacionamento com seus clientes. A própria ferramenta passou a oferecer diferentes modelos de como posicionar e vender sua marca para o público que frequenta a rede.

Assim, de colégios de ensino infantil a universidades renomadas são raras as instituições de ensino que ainda não estão presentes no Facebook. E essa presença na rede não se restringe apenas ao uso publicitário.

Em se tratando da comunidade escolar, esta rede comporta desde:

  • a fanpage oficial do colégio, em que são veiculadas informações cotidianas e ações de marketing para captação e retenção de alunos,
  • a participação dos professores, comumente para envio de conteúdos extraclasse ou interação com estudantes
  • até a presença maciça dos próprios alunos e familiares, que podem usar o Facebook para dialogar com a escola ou para interagir com o fluxo de comunicação enviado por ela.

Uso indiscriminado do Facebook

Apesar do potencial do Facebook como ferramenta de marketing para a escola seja realmente atrativo, os problemas começam quando a rede é usada como meio de comunicação com as famílias.

Dentre eles está a falta de visibilidade e de gestão, por parte da instituição de ensino, dos comunicados veiculados pela rede. Ao postar um informe de saída pedagógica na página do colégio, por exemplo, não é possível mensurar se todos os pais ou alunos viram aquele informe.

Tendo em vista que, normalmente, os usuários recebem grande volume de atualizações de forma quase instantânea pela rede, as informações acabam sendo sobrepostas e fica impossível garantir que as famílias vão realmente receber aquele recado.

Os desdobramentos e consequências desse hiato na comunicação podem reverberar na qualidade do relacionamento escola-família tão fundamental para o sucesso da educação.

Outra dificuldade do uso do Facebook como canal de comunicação do colégio está em separar os papéis profissional e pessoal de cada agente da comunidade escolar com perfil na rede.

No caso de um professor, que passa a aceitar alunos em seu círculo de amigos pelo perfil pessoal, seu comportamento e posicionamento devem contemplar esse público, muitas vezes composto por crianças, adolescentes e jovens. Afinal, o compartilhamento de fotos pessoais inapropriadas, bem como a exposição de momentos de sua vida pessoal podem tirar a credibilidade do profissional e do colégio que ele representa.

Para evitar esse tipo de confusão de papéis, a alternativa usada por alguns docentes é criar fanpages usadas especificamente para o contato com os educandos. Mas ainda assim é preciso que a escola monitore a criação de grupos e páginas no Facebook por professores ou funcionários, tendo em vista que há casos em que os educadores tomam a iniciativa sem a devida autorização ou, até mesmo, à revelia da escola.

Como não há como desvincular a imagem professor-escola, a falta de monitoramento e de controle frente a essa comunicação/interação que acontece no Facebook pode causar sérios desdobramentos para o colégio.

Privacidade: o que considerar?

Outro risco que a escola precisa avaliar relacionado à privacidade na comunicação feita pelo Facebook é que cada post publicado pela escola acaba ficando vulnerável a comentários e interações dos usuários da rede. Ou seja, a depender do conteúdo da publicação, não apenas curtidas, mas também críticas e opiniões divergentes podem ser recebidas e criar um ambiente propício ao debate virtual entre famílias e escola ou até mesmo entre os próprios pais.

Neste aspecto, essa falta de gestão na comunicação se assemelha aos riscos dos grupos de mães e pais no WhatsApp, ou seja, a escola acaba tendo que atuar como mediadora do diálogo entre os pais e sofrendo suas possíveis consequências negativas desse embate. Já pensou o quanto isso pode ser trabalhoso e prejudicial para a imagem do seu colégio?

Outro ponto a ser considerado quanto às práticas e ao comportamento das escolas no Facebook está relacionado à postagem de fotos de alunos da instituição. Nesse quesito, todo cuidado é pouco para não expor os estudantes sem a devida autorização dos pais, seja em fotos de eventos ou em campanhas publicitárias.

Postar a imagem de crianças ou adolescentes, mesmo que relacionada a atividades cotidianas e até positivas da escola, como em uma saída pedagógica, por exemplo, pode ser considerada exposição indiscriminada e levar a escola a responder judicialmente pela publicação, conforme destacou a advogada especialista em direito digital, Patrícia Peck Pinheiro.

Cautela na utilização da ferramenta

Neste contexto, segundo Patrícia, é imprescindível que a escola estabeleça critérios e posturas, definindo os limites de interação na rede social entre seus docentes (e demais funcionários), alunos e famílias.

O caminho para isso, conforme argumenta,  passa por promover amplo diálogo entre todos os agentes envolvidos no processo comunicacional de forma a avaliar qual deve ser a estratégia do colégio no uso do Facebook.

Para isso, ela deve se questionar desde o campo de atuação na rede (se o colégio vai usá-lo em ações de marketing, como meio de interação com os famílias, como canal de comunicação, entre outros), quais parâmetros a serem trabalhados dentro de cada campo e quais limites e posturas são necessárias no relacionamento escola-família na rede social. Afinal, na internet não existem muros e as possibilidades são infinitas.

Em seu colégio, como vocês têm usado o Facebook? Quais os resultados percebidos? E os professores, como vocês acompanham a interação deles com os alunos da rede? Você já presenciou ou mediou algum dos problemas mencionados? Deixe seu relato e compartilhe conosco sua experiência.

Leia também os outros posts dessa série, onde desbravamos cada um dos desafios na comunicação enfrentados nas escolas:

Post 1: E-mail

Post 2: WhatsApp

Post 4: Transmita seus valores

Post 5: ClassApp

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