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Com a economia em crise, o conceito de “fazer mais com menos” passou a liderar a lista de prioridades de qualquer empresa. Aumentar a receita, enxugar os custos e ganhar escala, mas sem deixar de investir na qualidade do produto ou serviço prestado são necessidades cada vez mais urgentes em um cenário econômico incerto, mas que parecem impossíveis de serem correspondidas de forma simultânea.  

Mas, não são. A premissa de investimento inteligente está incorporada ao modelo de negócios de toda startup. Movidas pela inovação, muitas delas impactam a vida de milhões de pessoas e ganham escala de maneira rápida, assertiva e eficiente. Mas, afinal, tomando como base a ascensão das startups, seria possível realizar uma expansão sustentável no ramo escolar? Como identificar quais áreas são estratégicas e merecem mais investimento e quais podem estar minando o seu orçamento?

Se inspirar neste universo para repensar os processos de gestão das escolas particulares pode ser um ponto de virada no crescimento da sua instituição de ensino.

Partindo do zero

A possibilidade de criar algo muito inovador e de qualidade, mas ao mesmo tempo simples e com baixo custo para o consumidor, foi o que motivou Gustavo Fuga, de 25 anos, a criar a rede de ensino 4YOU2. A startup oferece para estudantes das classes C, D e E a oportunidade de aprender uma nova língua, por valores muito abaixo das escolas convencionais de idiomas.

Assim como seus atuais alunos, Fuga também nasceu na periferia e não tinha condições de pagar um curso de idioma. Carioca, se mudou para São Paulo quando foi aprovado pela USP (Universidade de São Paulo) para estudar economia, tendo como premissa de que sua facilidade para lidar com números seria sua única opção para criar um futuro diferente à realidade que lhe foi imposta. Fuga cresceu sentindo as consequências da desigualdade social, e quando chegou à Universidade não foi diferente. Enquanto boa parte da turma falava bem inglês, ele mal conseguia acompanhar as leituras estrangeiras solicitadas pelos professores.

Logo no início, foi fazer um estágio na Aiesec – uma rede estudantil internacional, que organiza estágios universitários pelo mundo todo. Por lá, a convivência com estrangeiros lhe ajudou a aprender um pouco sobre cada idioma. Fuga era responsável por intermediar o contato com ONGs brasileiras que tinham interesse em empregar estrangeiros. Em um desses contatos, uma organização desistiu de contratar um estudante que já estava no país.

Para ajudá-lo, Gustavo teve a ideia de criar um projeto de ensino de inglês em comunidades carentes, e oferece a vaga de professor aquele estrangeiro. A ideia surgiu no mesmo instante em que o empreendedor percebeu que a fluência do intercambista poderia ser muito útil a quem desejava aprender o idioma.

Com a resposta positiva, Fuga montou o plano de negócio da 4YOU2 em apenas um dia – modelo que rege a empresa até hoje. Todos estrangeiros, os professores se hospedam na própria comunidade e recebem uma ajuda de custo como remuneração. Já os alunos, desembolsam uma mensalidade que parte de R$ 59,90 para terem aulas de idiomas com professores nativos. Assim, enquanto o maior ganho para o docentes está na experiência filantrópica e cultural com os estudantes, os alunos conseguem aprender novas línguas em cursos de qualidade e a um custo muito baixo.

Na época em que criou a 4YOU2, em 2011, tudo o que o empreendedor tinha era uma sala de aula emprestada de uma ONG. O jovem fez a mesma proposta para outros estudantes estrangeiros da USP – ensinar inglês em troca de um pagamento simbólico, porém de grande retorno cultural. Dias depois, afixou um cartaz improvisado em um espaço de lazer do Capão do Redondo, oferecendo curso de inglês por R$ 55. Saiu de lá com 50 nomes e a promessa de dar início as aulas em 30 dias.

Em menos de um ano, a 4YOU2 já tinha mais de 500 alunos. Três anos depois, já eram quatro mil matrículas e até hoje, os números não param de crescer. Já são sete unidades em três estados (São Paulo, Minas Gerais e Paraíba). A maioria dos alunos vem do boca a boca, da propaganda feita no metrô, e de parcerias locais com empresas e escolas das redes pública e até particular.

 

Lições de posicionamento

Inventar um método inovador, de baixo custo e eficaz foi a maneira que Fuga encontrou de criar um negócio com bom retorno financeiro. Ao longo dos últimos anos, ele diz ter aprendido muito sobre como estruturar uma empresa de forma simples e criativa para crescer e dar lucro. Formado em economia, agora ele é mestrando em Empreendedorismo na USP.

“A minha proposta de negócio não tem só a ver com dinheiro, a gente quer deixar um legado para o mundo. O principal desafio de uma organização é desviar das tentações de cair em propostas convencionais que nos levam para o comodismo”, diz.

Entre 2012 e 2015, a 4YOU2 cresceu somente com recursos próprios. Tudo começou com R$ 10 mil – soma dos recursos financeiros de Fuga, sua irmã e uma amiga, que toparam ajudá-lo no negócio. Em 2015, a empresa foi acelerada pela Quintessa – fundo voltado a ajudar a alavancar negócios de impacto social. A partir daí, houve uma pressão maior por resultados, segundo Fuga.

“Crescemos bastante enquanto estávamos apenas com o nosso dinheiro. Mas, quando o investimento vem, a coisa realmente muda de figura. É preciso acelerar”.

 

Práticas de gestão

Para Fuga, otimizar recursos para produzir resultados mais eficientes, sem aumentar o custo da operação, está ao alcance de qualquer um. De acordo com o empreendedor, é muito importante entender que a escalabilidade de um negócio parte de um planejamento fundamentado em boas práticas de gestão. No caso das escolas, Fuga cita que os modelos de governança ainda são muito tradicionais, sobretudo em relação a gestão de pessoal.

Na opinião do empreendedor, dispor de profissionais bem qualificados não significa, necessariamente, dispor de salários exorbitantes, por exemplo. Tomando como exemplo o próprio método utilizado pela 4YOU2, Fuga diz que as escolas ainda não enxergaram o potencial e o valor de profissionais com pouca ou sem nenhuma experiência.

No caso da 4YOU2, cerca de 300 estrangeiros já passaram pela startup – quase todos sem nenhuma experiência anterior com sala de aula. Eles recebem uma espécie de bolsa-auxílio de R$ 1,2 mil por uma jornada de 26 horas semanais.

“Temos professores que são alunos de Harvard e Yale, por exemplo. Eles têm muito a ensinar, mas também querem aprender. Será que alguma escola já pensou em contratar alguém com essa qualificação por um salário menos ostensivo?”, diz.

 

Repense processos

Embora muitos gestores apostem na aquisição de tecnologia para reduzir custos, Fuga diz que é preciso estar atento para saber se esses softwares realmente representam uma economia ou se repensar os processos com mais criatividade não seria um caminho mais assertivo. Diante desta análise, como é possível equilibrar as finanças e alavancar os resultados de gestão escolar?  

A recomendação de Fuga é sempre dar visibilidade aos custos, saber o que está sendo gasto, por quem e onde. Ou seja, agrupá-los em categorias, como pessoal, infraestrutura, aluguel, institucional, marketing, entre outros. A partir desse detalhamento é interessante criar uma espécie de histórico para identificar consumos desnecessários e detectar possíveis áreas improdutivas. Além disso, também é possível comparar diferentes áreas da escola e os seus números em relação às práticas do mercado, segundo Fuga.

 

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Foi desta forma que Fuga descobriu que 70% dos processos burocráticos da 4YOU2 eram feitos manualmente, mas que poderiam ser sistematizados. Nesse caso, a vantagem da adoção da tecnologia foi, inclusive, além do ganho pontual e objetivo: os funcionários que antes estavam dedicados aos processos agora delegados ao sistema, passaram a ter mais tempo para humanizar o atendimento e torná-lo mais pessoal e engajado.

“As escolas costumam “esconder” seus melhores funcionários em meio a planilhas, boletins, controles financeiros, enquanto muito disso pode ser automatizado. Esses funcionários têm que ser bons para os pais, para humanizar e solucionar. É preciso modernizar, não só na proposta pedagógica”, alerta.

 

Permita erros

Assim como enxugar as despesas rotineiras nos mínimos detalhes pode ser uma estratégia para fazer mais com menos, a gestão de custos também está apoiada na disseminação de melhores práticas de contenção entre as diferentes áreas de um colégio e na construção de um ambiente aberto à cultura de inovação.

Porém, são muitas as barreiras que impedem uma instituição de ensino a promover inovação. As principais na opinião de Fuga, são o excesso de processos, o temor de alguns gestores de cometer erros e a falta de incentivo para que os funcionários “pensem fora da caixa”.

 

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No ambiente de negócios das startups, o conceito de “lean startup” significa pôr fim aos desperdícios e etapas desnecessárias para ter uma empresa mais enxuta. Para Fuga, a melhor forma de incorporar a metodologia é encarar o mercado educacional sem medo de errar e com ousadia, colocando a mão na massa ou como ele próprio define: aprender fazendo.

“É preciso tirar o peso do erro. Não digo para ninguém ignorar a realidade financeira de sua escola, tampouco ignorar as regras básicas de administração, mas o excesso de planejamento gera desperdício de tempo e dinheiro”, diz.

Fabrício Bloisi, CEO da Movile, startup brasileira criadora do iFood, PlayKids, Leiturinha entre outros, também defende que as mudanças que despertam para a inovação se dão principalmente pela capacidade de ser resiliente aos erros e de aprender com eles. Confira como essa postura pode ser transportada às escolas, ajudando-as rumo à educação do futuro.